Wednesday, February 5, 2014

Convite

Sinto lhe informar que nada levaremos desse mundo para o próximo. Os centavos e centenas que economiza entre hoje e o fim não têm a mesma utilidade dos cremes anti-idade que usa para retardar a velhice. Contradidório, isso - você economiza em momentos e sentimentos para gastar em artifícios prolongadores da juventude. De que adianta? Viver por mais tempo do que nós, meros mortais, e viver mais bela do que nós, tão feios e pobres ao seu ver?

Faço-lhe um convite para essa vidinha medíocre que levo; essa vidinha tão simples e desprovida de grandes acontecimentos, composta apenas por sorrisos e ternura e abraços e risadas. Essa vidinha ridícula na qual minha maior alegria é um prato feito num boteco e uma cervejinha gelada servida naqueles copos sujos de bar que tanto te afligem.

Faço-lhe um convite para minha solidão compartilhada. Um convite para as lágrimas, para as aflições, para os choros e para a dor. Faço-lhe este convite ciente de que de nada nele te apetece, mas insisto pois são estes os momentos e sentimentos que carregarás após o fim.

Faço-lhe um convite para o amor verdadeiro. Não aquele que aparece no cinema e na televisão. Não aquele que te proíbe de cortar as unhas dos pés na frente do outro e que te constrange de comer um temaki sem fazer sujeira. Meu convite é para o amor companheiro, o amor que segura o cabelo das amigas no banheiro da balada e que ri da cara da namorada por ter alga presa nos dentes no restaurante japonês. Meu convite é para o amor que não se importa em dividir a conta em um primeiro encontro. O amor que une em botecos, sarjetas e nasceres do sol na Rua Augusta.

Este meu convite não tem data de validade e nem discrimina por aparência ou idade. Quero ao meu lado os feios e os belos; os que sentem dor quando caem e os que vibram quando se levantam. Os que são tão ricos, mas tão ricos, que não sabem onde mais investir seus sorrisos e gargalhadas, e passam a compartilhar sua fortuna com os que têm apenas dinheiro. 

Venha trajada como quiser, apenas peço que dispa-se de suas máscaras. Venha preparada para  sujar os pés na lama e para dormir na beira do lago no gramado úmido e "anti-higiênico". Esperaremos-te lá, juntos em nossa solidão compartilhada - pois ao contrário do que pensas, é apenas isto que nos restará quando o fim se aproximar.