Acho que eu tinha uma idéia totalmente diferente sobre o amor.
Sei que tenho muito a aprender. Sei que sou boba e pura em muitos sentidos, talvez pra compensar outros. Mas odeio ser assim, as vezes.
Não quero que o amor se torne mais uma das coisas na minha vida que, quando dá errado, eu tenho que aceitar e sorrir e seguir em frente. Já faço isso pra todo o resto. Não sou dona da minha vida em muitos sentidos. Faço favores para todos e só recebo patadas e mais cobranças. E quando tento mudar isso, quando tento deixar de fazer favores, nada muda. Ou seja, todos são indiferentes à minha existência, acho que até sou um incômodo as vezes, mas quase nunca me importo. Gosto da minha vida, dos meus valores, da minha cabeça. Me acho única e extraordinária em muitos sentidos. Vejo o lado bom de tudo e se não há lado bom, sou boa em deixar pra lá.
Mas com o amor, achei que seria diferente.
Nunca quis me apaixonar porque sempre tive uma idéia romântica demais sobre o amor. Sabia que eu seria diferente, quando me apaixonasse. Sabia que não conseguiria ver o lado bom das coisas ruins e sabia que não ia ser boa em deixar pra lá. Tudo isso porque pra mim o amor é a única coisa tão boba e pura e extraordinária quanto eu e seria uma pena ter que deixar pra lá, como se fosse uma parte do "resto".
Mas é claro que depois de um tempo, como todo o resto, começa a parecer que vai dar errado. É claro que a vida inventa problemas e espera que eu faça como sempre faço: ignore e deixe passar. Como com todo o resto, sou esperada a rir e me embebedar e falar que nem ligo, quando na verdade é a única coisa para qual eu ligo.
Eu só queria paz.
Paz de amar e amar e amar e me desesperar ao ver pedaços do futuro nos quais estou sozinha - futuro esse que não fui eu que escolhi.
Paz de ter ser forçada a trabalhar com qualquer coisa, principalmente com o que eu não gosto, só pra sociedade me dizer que eu tenho algum valor.
Paz de ter que me importar tanto com dinheiro, só porque todos se importam.
Paz de ver tudo o que eu gosto ser arrancado de mim e jogado no lixo junto com todos meus sonhos infantis.
Acho que quanto eu menos me importar, mais feliz serei. O segredo da felicidade, ao contrário do que eu pensava, é não se importar. Não amar. Não gostar. Também não odiar. Simplesmente morrer por dentro e se anestesiar o máximo possível, pra não sentir absolutamente nada e viver em branco. Sem amores, mas sem mágoas.
Não sei porque viver então, se a única coisa que te mantém vivo é não viver.
Sei que soa dramático, mas o mais estranho de tudo é a calma que sinto ao me dar conta de tudo isso. Acho que foi exatamente assim que Buddha se sentiu ao atingir "enlightenment": calmo, mais sábio, e morto por dentro.
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